A noite cai e, nas grandes cidades, centenas de milhares de lâmpadas acendem. A poluição luminosa dos centros urbanos ofusca o brilho das estrelas que surgem no céu – o que faz a noite parecer menos estrelada. Mas elas estão lá. E para registrá-las é preciso buscar um escuro noturno mais profundo. Essa é a especialidade do fotógrafo norte-americano Ben Canales, que viaja para lugares longínquos em busca da luz de constelações, como a Ursa Maior, Via Láctea e Cruzeiro do Sul.
Canales é um dos maiores conhecedores do tema e, em 2011, com uma dessas fotos, conquistou o primeiro lugar no concurso Traveler Photo Contest, da National Geographic Traveler. Ele conta que admirar as estrelas é um hábito de infância. “Amo olhar para o céu à noite desde criança. Isso sempre me inspirou, mas nunca pensei em ser astrônomo. Gosto apenas da sensação de ficar deitado na grama vendo o céu estrelado. Quando comecei a fotografar as estrelas, percebi que pouca gente fazia isso e comecei a me especializar”, diz. E foi por acaso que ele descobriu a técnica para fotografar estrelas.
O interesse pela fotografia veio de viagens que costumava fazer com os amigos. “Fazer fotos era compartilhar sentimentos e experiências”, conta. As primeiras imagens foram de paisagens com montanhas e florestas. Como gosta muito de acampar, costumava passar a noite vendo as estrelas e depois, além de apreciá-las, passou a registrar os pontos luminosos no céu.
Em 2008, enquanto trabalhava como marceneiro numa construção em Portland, norte dos Estados Unidos, Canales machucou as mãos. Sem poder trabalhar, resolveu viajar para o Parque Nacional Hot Springs, no Arkansas, sul do país. Em posse de uma Canon EOS 30D, emprestada de um amigo, e um tripé, começou a fazer fotos de pôr do sol.
A noite foi caindo e ele continuou “brincando” com a câmera, fazendo ajustes na abertura do diafragma e na velocidade. Ao ver as imagens, percebeu que havia muito mais pontos brilhantes no céu nas fotos do que conseguia ver a olho nu. “Quando descobri que poderia fotografar estrelas, fiquei obcecado”, diz. E foi assim que Canales descobriu uma nova profissão – unindo as paisagens e as estrelas, o que, segundo ele, é o diferencial das fotos que faz.
Por conta própria
Ben Canales é autodidata. Nunca fez nenhum curso específico de fotografia e o que o motiva a se especializar cada vez mais em imagens noturnas de céu é o desafio da captura. E, por tentativa e erro, descobriu o melhor equipamento, tempo de exposição e lentes necessárias para fotografar suas musas, as estrelas. “Gosto de descobrir coisas novas por conta própria”, conta.
Ele fotografa com uma Canon EOS 1DX com objetiva 24-70 mm f/2.8. O único equipamento de iluminação que usa é um farol ou uma lanterna para auxiliá-lo durante a montagem dos acessórios e jogar luz em algum ponto da paisagem. Apesar da estrutura pequena, cada foto implica uma série de estudos antes de sair a campo. A primeira coisa que procura se informar é a fase da lua, que deve estar com apenas 1/3 do corpo (seja minguante ou crescente) presente no céu para que a luz do luar não atrapalhe a das estrelas.
Canales também pesquisa bastante sobre as paisagens do lugar, as condições climáticas, o horário e a posição em que o conjunto de estrelas que almeja registrar estará no céu – o software Stellarium (que pode ser baixado em www.stellarium.org) o ajuda a descobrir as datas e exato local em que as constelações estarão. “Antes de viajar, também procuro fotos de outras pessoas para saber o que posso encontrar na região. É difícil visitar um lugar novo no escuro, mas é divertido”, afirma.
Os cenários
O fotógrafo costuma escolher regiões que fiquem cerca de 80 km e 300 km distantes das grandes cidades para evitar as luzes urbanas. Canales também prefere locais que tenham elementos como montanhas, rios, e uma casa ou fazenda que o ajude a compor uma paisagem interessante.
Para fazer as fotos de uma campanha publicitária da marca de cerveja Stella Artois no Brasil, o fotógrafo foi para a Praia do Bonete, em Ilhabela, no litoral norte paulista, subiu até a Pedra Macela, em Cunha, na região leste do Estado. “Esses lugares estão distantes das cidades e oferecem belas paisagens naturais para compor com as estrelas”, informa. Apesar de precavido, nem sempre o tempo coopera com Canales. Na estada paulista, as nuvens deram um certo trabalho para o fotógrafo, que teve de esperar alguns dias para conseguir registrar um céu limpo.
Para fazer a imagem que ele considera a melhor de todas até hoje, teve de contar com uma ajuda celestial. Ele viajou para Lost Lake, no Oregon, oeste dos Estados Unidos, porque sabia que encontraria um céu incrível. Era a primeira vez dele na reserva ambiental, e havia muitas nuvens para atrapalhar seus planos e, na manhã seguinte, ele precisaria ir embora. Canales começou a andar no escuro pela floresta. O sono começou a bater e junto veio o mau humor. Até que, abrindo espaço entre arbustos, encontrou o lago, que dá nome ao local, e, sobre a paisagem, não havia uma nuvenzinha atrapalhando.
“Fiquei paralisado. Deparei-me exatamente com a cena que tinha imaginado quando quis ir para lá fotografar. Era um céu intensamente brilhante e as estrelas da Via Láctea formaram um arco com o reflexo no lago. Antes de fotografar, fiquei uns 20 minutos apenas observando a cena de tão impressionado que estava”, conta.
Embora a maioria das imagens sejam compostas de paisagens e estrelas, às vezes ele costuma posar para suas próprias fotos. “A exposição é de cerca de 30 segundos e a pessoa tem de ficar parada esse tempo, o que não é fácil. À noite também costuma fazer frio e o pessoal já está cansado no horário em que faço as fotos. Por isso, prefiro ser eu mesmo o modelo”, explica o fotógrafo.
Além do céu dos Estados Unidos e Brasil, Ben Canales já fotografou constelações nas Ilhas Fiji, na Oceania, e pretende ir, em breve, para a mágica cidade inca de Machu Picchu, no Peru.